Desenvolver estudos sobre a natureza da consciência, seus
domínios e modelos de desenvolvimento.


sábado, 2 de novembro de 2013

A “memória”das células

 Mani Alvarez
 
Todos nós sabemos que a estabilidade de nossa forma corporal é apenas aparente. Noventa por cento dos átomos de nosso corpo não estavam presentes nele há apenas 3 meses atrás. Nossa pele se renova a cada mês; nosso estômago adquire um novo revestimento a cada 4 dias; nosso fígado a cada 6 semanas e a cada 3 meses adquirimos uma nova estrutura óssea por causa dos átomos de todos os tipos que atravessam livremente suas paredes celulares. Através dos processos de respiração, alimentação e eliminação, estamos em constante troca com o resto do mundo. Até as células cerebrais podem se renovar. Em 1969 um pesquisador de Cambridge, Godfred Raisman provou que as células nervosas danificadas podem induzir novo crescimento.
            A questão é: se nossas células se renovam o tempo todo, o que as mantém coesas numa forma que se repete? Em outras palavras: como minha aparência se mantém a mesma ao longo do tempo? Ou como é possível uma doença durar muitos anos, se todas as células do corpo já foram substituídas por outras? Afinal, onde está guardada a memória das células?
            Desde a década de 70 foi descoberta uma nova classe de substâncias químicas chamadas “neurotransmissores”. Elas atuam em nosso corpo como “moléculas mensageiras”; partem do cérebro e conduzem aos nossos órgãos nossas emoções, desejos, lembranças, sonhos e intuições. Sempre que um pensamento se forma, essas substâncias químicas surgem do nada e codificam a informação, retransmitindo-a ao organismo inteiro.  Pensar é praticar química cerebral, promovendo uma cascata de respostas através do corpo. Esta é a base material da inteligência.
            E aqui chegamos ao âmago da questão: a mente é imaterial, mas desenvolveu uma forma peculiar de trabalhar em parceria com essas complicadas moléculas transmissoras. Para se projetar no corpo, a mente precisa dessas substâncias químicas. Não é espantoso que a cada pensamento, nós estejamos, de fato, movendo átomos de hidrogênio, carbono, oxigênio e outras substâncias químicas de nosso cérebro?
            Não seria este fenômeno um verdadeiro caso de “telecinésia”*? *telecinésia é a capacidade de mover objetos só com a força do pensamento.
            Pois bem: o cérebro transmite suas informações para os órgãos do corpo mediante os hormônios que fluem pela corrente sanguínea e através dos neurotransmissores, que viajam a uma velocidade inacreditável. As áreas mediadoras de nossas emoções no cérebro são as amígdalas e o hipotálamo, áreas especialmente ricas em neurotransmissores. Isto significa que onde estão as substâncias químicas aliadas ao pensamento existem processos de pensamento em abundância. Mas como poderiam essas moléculas mensageiras levar nossos pensamentos para locais distantes do cérebro em questão de segundos?
            Isso ficou esclarecido quando foi descoberto que os impulsos nervosos não viajam em linhas retas através dos “ramos” dos neurônios; eles circulam livremente a “inteligência” do corpo através da corrente sanguínea, dentro dos glóbulos brancos de nosso sangue. Portanto, se estamos felizes ou tristes, preocupados ou esperançosos, isso será convertido em neuropeptídeos e neurotransmissores que irão levar esses impulsos emocionais para todo nosso corpo, via corrente sanguínea. Por isso nossas emoções são tão prontamente manifestadas fisicamente, inclusive pelo nosso sistema imunológico. Nossas células são “inteligentes”.
            Mas o mistério continua. E a pergunta, todavia, persiste: o quê, ou quem controla essa “inteligência”?
            Essa questão pode ser melhor pensada se tomarmos o exemplo de pessoas que sofrem de qualquer tipo de doença cronificada. A pessoa é a sua doença. Em algum momento de sua vida houve a fusão de um pensamento com uma molécula e a partir daí ela vai informar o corpo sempre da mesma maneira, sem espaço para alterações. Corpo e mente estão irracionalmente unidos. Vamos a um exemplo: o que acontece quando alguém vê uma cobra e dá um salto para se desviar dela? O pensamento gerado pelo medo – cuidado, uma cobra! Estimula com a rapidez de um raio a produção da adrenalina que vai fazer com que você dê um salto imediatamente, sem pensar. A idéia e a ação estão tão intimamente ligados que não houve tempo para se formular um pensamento consciente. Você apenas vê a cobra e salta. Este é um exemplo da chamada “inteligência das células”. Ela “sabe” que uma cobra representa perigo, não importa se alguma vez você foi ou não atacado por uma. Trata-se de uma memória ancestral que todos carregamos.
            No caso das doenças crônicas é a mesma coisa. A mente e as moléculas mensageiras são combinadas de modo automático e perfeito a perpetuar a produção de uma desordem física nas células. Mesmo quando aquela célula não existe mais. Há uma memória que “sabe” como perpetuar aquela desordem. Portanto, há um transtorno na codificação da idéia. Defeito no planejamento. É isto que a medicina começa a elucidar: a memória de uma célula é uma informação e como tal ela pode durar mais que a própria célula.
            No caso de pessoas viciadas em comer, beber ou fumar, costuma-se pensar que foi criada uma dependência química, o que implica em dizer que suas células ficaram dependentes da nicotina, da comida ou do álcool. Na verdade, nossas células são renovadas periodicamente, portanto, como podem ficar durante anos viciadas e dependentes?  O que ficou “viciado” foi a “memória” da célula, em outras palavras, o vício é uma memória distorcida, uma informação irracional que se fixou em determinada fórmula química.
            Ainda que essas memórias possam constituir um vício familiar herdado, portanto, transmitido geneticamente, ainda assim é preciso considerar as condições imateriais que levaram aquele “gene do vício” a se imantar no DNA daquela família. A produção daquela informação pode ter sido iniciada há gerações atrás, mas ela vai persistir até que alguém consiga modificá-la na fonte.
            Segundo o dr. Chopra, “o câncer não é tanto uma célula louca e transviada e sim a planta básica distorcida daquela célula, um conjunto de instruções errôneas que transformam o comportamento celular normal numa mania suicida de câncer.”
            Se um neuropeptídeo – célula mensageira – não é um pensamento, mas move-se de acordo com ele, porque o simples desejo de cura não é suficiente para induzir às células a volta à saúde?
Se, como diz o dr. Chopra, um neuropeptídeo aflora na existência ao toque do pensamento, de onde vem esse impulso para existir? Uma emoção é suficiente para transformar a não-matéria em matéria. Basta sentir medo e moléculas do método afloram em minha fisiologia. Então, porque o pensamento de saúde muitas vezes não é suficiente para curar uma doença?
Essas são algumas das muitas questões que se colocam para o estudo da relação da consciência com cérebro, da mente com o corpo...
                                                                                                 


4 comentários:

  1. Essa matéria me faz lembrar a microfisioterapia, a qual trabalha com as memórias das células.

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  2. Olá Valéria - quais sãos os principais conceitos da microfisioterapia, conforme você se referiu? FDrummond

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  3. Como fumante, que se encontra bastante consciente dos malefícios do vício e já desejosa de abandoná-lo, há algum tempo, e, também sabedora de que existe a possibilidade de realizar qualquer mudança que desejemos, tenho me indagado muitas vezes sobre o porquê de o processo ser aparentemente simples, mas não fácil de se conseguir operacioná-lo conscientemente? Será que somente se consegue obter o alcance de tal potencialidade, ultrapassando o portal da consciência? É isso?

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  4. Oi Rosi
    Entendo sua angustia como fumante que quer deixar de ser... e imagino que esteja se perguntando: tudo bem, acredito que nossa mente possa mudar a informação de minhas células viciadas em nicotina, mas como fazer isso???
    A boa notícia é que você pode sim, mudar essa informação; a outra é que para mudar essa informação celular viciada você precisa aprender a acessar uma zona de silêncio em sua mente, lá onde acontecem as coisas e tudo é criado. Mas vou lhe pedir paciência e esperar um pouco mais, porque estou preparando um outro artigo para colocar aqui em nosso Blog exatamente sobre esse assunto: afinal de contas, o que é a 'cura'?
    Mani

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