Mani Alvarez
Continuando a nossa reflexão sobre 'a memória das células', vamos adentrar um pouco mais nesse mistério da criação, que acontece a cada segundo na natureza. A física
quântica demonstrou que as partículas subatômicas são separadas por enormes
espaços vazios numa proporção de 99,99%. Como pode tão vastas extensões de
“vazio” se transformar em vida, objetos, minerais, seres humanos?
No mundo newtoniano, esse dilema não
existe, porque a natureza é vista em termos de corpos sólidos que se comunicam
uns com os outros em linha reta e previsível. Um evento A causa o evento B, e
assim sucessivamente. Mas no mundo quântico não é assim que acontece. O evento
A é um pensamento, portanto imaterial; o evento B é um neuropeptídeo, uma
substância química. Não estamos mais numa linha reta e sim, num efeito em
curva. Não existe mais causa e efeito. O que há é uma transformação oculta em
movimento, a transformação de um pensamento em molécula. Abaixo dessa linha
reta onde os eventos podiam ser situados numa visão newtoniana, agora o que
temos é um abismo de onde sai toda a alquimia da vida. Quinze bilhões de
neurônios do sistema nervoso são coordenados em perfeita precisão pelo comando
dessa fantástica alquimia abaixo da linha.
É por isso que a cura só pode ser
pensada em termos “quânticos”. Não se trata de um processo mecânico, causal,
objetivo. Ou seja, não basta “querer” ter saúde. É preciso mergulhar no abismo
do silêncio interior e buscar a sabedoria inata da vida. Quantuum é uma palavra
derivada do latim e significa “quanto”, ou seja, a quantidade de energia
necessária para provocar a transformação no âmago da unidade mínima da matéria.
É daí que jorra o inesperado do “salto quântico”. É daí que jorra a fonte
inesgotável da vida.
Esta zona de silêncio entre algo
imaterial – o pensamento – e material – a substância química, é o quantuum
da criação. Este é o local de nascimento da matéria. Aqui se mesclam,
segundo o físico quântico Heisenberg, o tempo e o espaço. Reina um eterno aqui-agora.
Nesse ponto imperam a unidade e a não-diferenciação. Trata-se de um ponto
que contém tudo, e que, ao mesmo tempo, é denominado de “nada”. Pois existe
entre o ser e o não-ser um abismo inexplicável. Os físicos, ás vezes,
referem-se a estado primordial como “singularidade”, mas que condensa o
mistério de todas as dimensões expandidas do universo. Basta dizer que um
neuropeptídeo obedece aos comandos da mente com a velocidade da luz.
Mas,
tudo se passa nessa zona de silêncio entre o pensar e a substância desse
pensamento – não no raciocínio mecânico e linear da racionalidade. O hemisfério
cerebral direito não conhece a causalidade, pensa apenas de forma analógica.
Parece que estamos no limiar de um “trans-pensar”... e enquanto toda a ciência e a medicina oficial trabalham no eixo horizontal, a
medicina quântica atua no eixo vertical. Esse é exatamente o campo da
Transpessoal, lá onde a consciência é uma investigadora potencial dessa
realidade transcendente que fica além desse vazio abismal. Esse é também o
campo onde se debruçaram místicos de todo o planeta em todos os tempos. Como?
Os sábios da antiguidade sabiam
dessa zona de silêncio e tinham conhecimento desse hiato entre um pensamento e
outro. Decidiram, então, virar sua percepção da realidade pelo avesso. Ao invés
de seguir os trilhos “normais” do pensamento em sua rota linear, decidiram sair
fora dos trilhos, ir além do pensamento e penetrar o vazio, o lugar nenhum, o
abismo do silêncio interior. Paradoxalmente, ao fazer desse estranhamento uma
prática constante, eles se tornavam livres de condicionamentos, vícios e
doenças – ou seja, eles liberavam a “memória das células” de seus
condicionamentos. Sua aparência tornava-se mais jovem. É como se eles tivessem
aprendido a arte de deter o tempo.
Hoje, estudos revelam a verdade
disso tudo que os mestres da antiguidade já praticavam. Uma pesquisa feita na
Inglaterra revelou que a cada ano de meditação regular, ocorre a diminuição
equivalente a um ano de envelhecimento. Mesmo entre pacientes idosos que começavam
a meditar em idade mais avançada, o rejuvenescimento era visível. Não que esse
fosse o objetivo. É como se essas mudanças ocorressem por conta própria. Hoje
já se sabe que pessoas que se mantém emocionalmente saudáveis através de
práticas como a meditação, desenvolvem regiões do córtex cerebral esquerdo,
responsável por sentimentos de paz, harmonia e felicidade. É o chamado “cérebro
feliz”. Elas ostentam isso na pele, no organismo, na vida.
Tudo isso serve para demonstrar que,
na fonte da percepção humana jaz um nível de consciência suprahumana. Nossa
mente possui um potencial de criação muito poderoso – que está além das
sinapses, embora passe por elas. Aqueles mestres não pareciam interessados em
poder ou posses, e sim, em desenvolver suas percepções. Só assim se compreende
o conceito védico de “maya” em sua plenitude. Não se trata de uma ilusão, como
o ocidente interpretou. Na verdade, “maya” é a ilusão das fronteiras da mente,
é o resultado de uma consciência que perdeu sua perspectiva cósmica. Recuperá-la
é o tesouro mais cobiçado.
Quando percebemos que somos pura
consciência, descobrimos também que possuímos um poder inato para a
criatividade. Deepak Chopra chama a esse estado de potencialidade pura. Ele diz: “A
fonte de toda criação é a conscientização pura... a potencialidade pura que
busca expressar-se do não manifesto ao manifesto. E quando descobrimos que
nosso verdadeiro EU é potencialidade pura, alinhamo-nos à força que coordena
tudo no universo”.
Estudiosos reconhecem que “campo
quântico” é apenas um outro nome para expressar o campo de potencialidade
infinita da consciência. Tudo na natureza é energia e informação. Quando
reduzimos uma flor, um cristal, uma célula humana a seus componentes básicos,
tudo que encontramos é energia e informação. Mas, podem dizer: então, o que
difere uma coisa da outra? Se tudo que existe na natureza é feito dos mesmos
elementos: carbono, hidrogênio, oxigênio, etc.?
A diferença é apenas o conteúdo
energético e informativo, que faz com que os elementos se organizem de formas
diferenciadas, compondo a riqueza e variedade do mundo das formas materiais. Nós, seres humanos, somos
privilegiados, porque nosso sistema nervoso é capaz de perceber a energia e a
informação contidas em seu próprio campo quântico. E tem mais: a consciência
humana pode interferir nesse conteúdo informativo e energético do seu próprio
corpo e a seu redor, modificando a realidade segundo o seu desejo.
Como a gente vê, a cada mergulho mais e mais mistério vem a superfície.... e novas perguntas afloram.
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